Escrito a mão numa noite madrugada de insônia e digitado no dia seguinte.
Eu tenho uma teoria de que cada um de nós nasce com sua cota X de preocupações e que ninguém pode se livrar dela ou diminuí-la.
"Cada um sabe a dor e a
delícia de ser o que é."
Caetano Veloso
Assim sendo, o máximo que podemos é selecionar, conscientemente ou não, quais serão essas preocupações. Um exemplo de preocupação que temos mais ou menos desde a infância são os estudos. Geralmente quem se preocupa mais com os estudos se preocupa menos com o dinheiro na idade adulta, mas no fim das contas todos se preocupam.
Preocupar-se é bom
Porém, se engana quem pensa que preocupar-se é ruim. Eu, por exemplo, me preocupo bastante com este blog. Até quando abro minha caixa de entrada não abro nenhum e-mail antes de moderar todos os comentários e, numa noite de insônia como esta, me preocupo em registrar minha ansiedade para transformar em um post no dia seguinte. Toda essa preocupação seria estressante se eu não sentisse prazer e estímulo nisso, e sinto ainda mais prazer agora que minha conta do ad-sense se tornou uma espécie de segunda conta poupança.
Caçando sarna para se coçar
Os humanos têm uma necessidade instintiva de manterem-se preocupados. Um dos exemplos mais claros de que procuramos preocupação quando tudo parece tranqüilo demais se chama casamento. Outro exemplo óbvio é essa vontade de continuar tendo filhos mesmo sabendo que a população do mundo já cresceu bastante e que os recursos naturais não serão suficientes para todos nos próximos anos.
Aluga-se
Desde que voltei a Goiânia tenho procurado, aos poucos, novas preocupações, mais estimulantes e que me tomem de tal forma que eu não tenha tempo de pensar nas preocupações que minha família (principalmente minha mãe e meu irmão) tentam arranjar para mim.
Nesta semana minha preocupação é conseguir um lugar para morar no mesmo bairro onde trabalho no turno da noite.
- Vou passar a me preocupar com os ladrões noturnos para deixar de lado as preocupações com ônibus (que de vez em quando também têm ladrões) e seus horários imprevisíveis.
- Vou deixar de lado os problemas familiares que não me pertencem, pelas prestações da geladeira, único utensílio doméstico que pretendo comprar parcelado.
- Vou me preocupar menos com meu baixo rendimento no trabalho por causa do sono e me preocupar mais em manter a geladeira (que nem comprei ainda) abastecida com frutas, leite e derivados.
- Vou me preocupar mais em ser feliz vivendo a castidade e menos com a minha mãe gritando no meu ouvido que sou lésbica quando ela está bêbada.
- Vou me preocupar mais em manter as leituras e os trabalhos da especialização em dia, ao invés de ficar ouvindo meu pai berrando que eu não compro nada para para a casa, mas ele mesmo sabe que eu não compro porque o que meu irmão não come antes da hora a minha mãe quebra antes da hora.
Investimento
Em poucos casos pode-se dizer que deixar a casa dos pais para morar de aluguel e sozinha(o) na mesma cidade seja um investimento. No meu caso, sim. Além daquilo que é mensurável: menos ônibus, mais horas de sono, mais tempo para trabalhos freelancers… tem um rendimento subjetivo que só quem convive com pessoas altamente viciadas em álcool e drogas podem compreender.
Bem, então vamos mudar de assunto que as preocupações mudaram agora. Tenho que ir nas Casas Bahia comprar a geladeira.
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