Tenho muitos amigos corruptos. Engenheiros, advogados, policiais, jornalistas… Eles não querem pagar inteira no teatro, no show, no cinema. Terminaram a graduação ou a pós faz tempo. Mas ainda têm carteira de estudante. Só que falsa.
♦ Bom senso
Para começo de conversa, não vejo motivo para todo estudante ter direito a pagar meia.
Pense em um médico bem sucedido que já ganha seus R$ 30.000 por mês. Ele resolve fazer um MBA em Gestão Hospitalar para tentar uma promoção e passar a ganhar ainda mais. Só porque esse médico voltou a estudar ele tem o direito de pagar meia? Razoabilidade zero.
Acredito ser justa a meia entrada obrigatória para estudantes menores de 25 anos, idosos que não precisam declarar imposto de renda e participantes de programas de inclusão como, por exemplo, Bolsa Família, ProUni, Renda-Cidadã e Bolsa Universitária.
E é claro que os organizadores de eventos continuariam tendo liberdade para negociar descontos e permutas com quem bem entendessem. Aliás, teriam até maior liberdade se não precisassem oferecer descontos sempre acima de 50%.
♦ Legislação
A medida (ex-)provisória nº 2.208 de 17/08/2001 autoriza praticamente qualquer um a fabricar carteiras de estudante, mas as leis que garantem o benefício são estaduais. Aqui em Goiás, por exemplo, é a lei nº 12.355 de 05/05/1994.
No Paraná, a lei nº 13.964 de 20/12/2002 garante meia entrada para doadores regulares dos hemocentros. As pessoas dão o sangue para pagar meia. Acho justo.
Já vi alguns projetos federais tentando moralizar o uso da carteira de estudante, como o PL 874/2011, mas não está tramitando mais.
É preciso regulamentar a emissão do documento, a validade dele e também a forma de fiscalizar. Não sei como funciona em outras cidades, mas aqui em Goiânia qualquer papel com foto, impressão colorida e plastificação é aceito como carteirinha de estudante. Dá para fazer em casa. Quem tem, paga meia. E quem ainda não aderiu à falsificação é chamado de otário.
♦ O barato que sai caro
E todo mundo percebe que, por causa das carteirinhas falsas, os preços dos eventos são muito mais altos. Uma peça de teatro que poderia ser R$ 60 chega aqui por R$ 120. Os organizadores sabem que a maioria vai pagar meia, então dobram o preço. Os otários honestos acabam pagando o dobro do que a peça vale.
Mas muitos dos que têm a carteirinha falsa também têm filhos, sobrinhos, enteados e afilhados que realmente estudam. Só que esses pagam o mesmo valor dos falsificadores: a falsa meia, quando na verdade poderiam pagar 1/4 da falsa inteira.
O imediatismo, associado à vontade de se dar bem a qualquer custo, leva as pessoas a praticarem essa falsa economia. É corrupção de quem não sabe fazer conta. Pagam menos para si, mas estão pagando mais caro para seus dependentes estudantes. Matemática básica:
Com corrupção | Pai com carteirinha falsa | Mãe com carteirinha falsa | Filho estudante | Total |
---|---|---|---|---|
Inteira: R$ 120. Meia: R$ 60. | 60 | 60 | 60 | 180 |
Sem corrupção | Pai | Mãe | Filho estudante | Total |
Inteira: R$ 60. Meia: R$ 30. | 60 | 60 | 30 | 150 |
É claro que estou especulando quanto aos valores exatamente dobrados. Mas pode ter certeza de que quem define o preço do evento já estima a bilheteria considerando a meia-entrada “universal”. No fim das contas você, que tem carteira falsa, só está enganando a si mesmo.
Essa história me confunde um pouco. Fico sem saber quem realmente é otário. Acho que todo mundo. Os otários-corruptos são os que escolhem ser otários ao usar carteira falsa. Os otários-honestos são os estudantes e os que pagam a inteira superfaturada.
Quando todo mundo é otário, mas ser otário-corrupto parece ser mais interessante, é porque passou da hora do Estado intervir com legislação pertinente.
Até mais!
Imagem: Lei de La Atracción Positiva
Confecção e o uso configuram três crimes e a pessoa pode ser presa em flagrante e responder a inquérito. Desrespeito aos artigos 298, 299 e 304 do Código Penal, por falsidade ideológica, falsificação e por ai vai, com pena de até 05 anos de reclusão. Os estudantes precisam do estímulo cultural e a maioria não têm renda para a inteira. Mau tem para passagem de ÔNIBUS para estudar. A falsificação desta carteira é banalizada acham que não é crime. Essas pessoas que fazem uso indevido desta carteira são falsas moralistas, as mesmas que chamam um politico de corrupto. :(
ResponderExcluirConcordaria com você, se vivêssemos em um mundo ideal.
ResponderExcluirInfelizmente, nesse mundo cão, e especialmente aqui no Brasil, limitar a meia entrada e outros direitos e benefícios ao cidadão, ainda que deturpados, não produziria o efeito liberal aguardado por você: a redução dos tíckets culturais. Isso porque o empresariado é ambicioso e só pensa no próprio umbigo. Note que atualmente o valor cobrado pela meia entrada representa um valor igual ou acima ao valor justo que deveria ser cobrado pela atração. Com a redução do benefício, o tícket-médio subirá e o lucro do empresário também.
Eu preferiria assim porque não tenho nada contra o empresário lucrar ainda mais. Sou contra apenas os honestos pagarem o dobro do preço.
ExcluirInjusto é o governo me obrigar a pagar por um subsídio que eu não concordo. Fazer carteira falsa é só um meio de compensar essa injustiça.
ResponderExcluirParabéns! Continue assim e será um político corrupto de sucesso.
ExcluirCompensar injustiça com falsificação? Parabéns! Continue assim e será um político corrupto de sucesso.
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