Vou contar a minha história sobre uso de anticonvulsivo paralelo ao uso de anticoncepcional, sendo o segundo sem a finalidade de evitar gravidez, mas sim de tratar a acne e amenizar transtornos menstruais.
Desde meus onze anos eu tinha muita acne. Tentei vários tipos de tratamentos dermatológicos. Alguns amenizaram a situação, mas nada resolveu o problema.
Desde meus doze anos de idade eu tinha ciclo menstrual totalmente irregular e muita cólica, sendo que a dor só aumentou com o passar do tempo. De alguns anos pra cá percebi que estava sofrendo também de TPM. Sofrendo e fazendo outros sofrerem.
Com dezesseis anos de idade tive minha primeira convulsão. No começo os médicos consideraram como um fato isolado, já que na época eu estava dormindo pouco, comendo rápido e estudando muito para o vestibular. Com dezoito anos eu tive outra convulsão na biblioteca da universidade. Passei então a tratar a epilepsia com anticonvulsivo, sob recomendação médica.
A essa altura eu já tinha lido bastante por aí que as pílulas contraceptivas poderiam me ajudar a tratar a acne, a diminuir minha cólica e a regular meu ciclo menstrual.
Mas antes que eu pensasse em tocar no assunto, meus neurologistas, todos do sexo masculino, me diziam que eu não podia tomar anticoncepcional: ele poderia interferir no efeito do anticonvulsivo. Se fosse verdade seria realmente muito perigoso tomar os dois medicamentos. Por muito tempo eu acreditei. Oito anos.
Até que um dia eu resolvi pesquisar novamente o assunto. Descobri que era o contrário: o anticonvulsivo é que interfere na ação do anticoncepcional. Ou seja, a mulher que toma anticonvulsivo não pode confiar no anticoncepcional para evitar a gravidez, o que nunca foi a minha preocupação.
Então percebi que não era bom ouvir apenas uma especialidade quando o assunto envolvia duas áreas. Na minha primeira consulta com um ginecologista após a “descoberta”, aproveitei para contar a ele o meu interesse: tomar contraceptivo para tratar os transtornos causados pela menstruação e, se possível, a acne também.
Esse médico se mostrou muito confuso quando eu falei que tomava anticonvulsivo. Também parecia não entender quando eu disse que meu objetivo com a pílula não era evitar gravidez.
Ficou muito claro que ele não sabia o que me recomendar. Depois de várias consultas ele continuava me enrolando para passar a receita. Até que um dia ele afirmou que não era bom eu tomar anticoncepcional porque os efeitos colaterais do remédio seriam piores do que os atuais efeitos da menstruação e da acne. Preferi não contrariar. Notei que ele não se sentia seguro o bastante para me passar qualquer receita.
Depois de alguns meses, passada a minha raiva desse médico que me fez perder tempo, marquei consulta com uma ginecologista bem recomendada. Falei que queria tomar anticoncepcional para tratar TPM, cólica e regular o ciclo menstrual. Na mesma hora, já vendo a situação do meu rosto, ela disse que o remédio me ajudaria com a acne também. Me pediu alguns exames. Na segunda consulta já fez a receita.
O único efeito colateral que tive foi muito sono³ nos primeiros dias de uso do anticoncepcional. A bula não previa isso. A médica também disse que não tinha relação. Coincidência ou não, foi o mesmo efeito colateral que tive quando comecei a tomar anticonvulsivo e novamente quando o princípio ativo do meu remédio mudou. Talvez seja uma reação típica do meu organismo a novos medicamentos de uso contínuo.
Fora o sono excessivo, que já passou, o anticoncepcional está me fazendo muito bem porque realmente trata todos os transtornos menstruais e melhorou muito a minha pele.
O anticonvulsivo, que tomo diariamente, também continua me protegendo dos sintomas da epilepsia.
Meus pequenos arrependimentos:
- ter acreditado, no início da minha adolescência e antes de começar a tomar anticonvulsivo, que os efeitos do anticoncepcional seriam piores do que os efeitos da menstruação;
- ter acreditado muito nos meus neurologistas quanto a assuntos ginecológicos e hormonais;
- ter demorado a pedir a opinião de um ginecologista sobre o assunto;
- ter escolhido mal meu primeiro ginecologista pós-SUS. Eu deveria ter pego mais recomendações antes.
Minhas humildes sugestões:
- não tome medicamento por conta própria, isso inclui anticoncepcionais;
- a partir da primeira menstruação, consulte-se pelo menos uma vez por ano com um ginecologista, mesmo que não tenha vida sexual ativa;
- quando o assunto for interação medicamentosa, consulte especialistas de todas as áreas envolvidas;
- leia as bulas de todos os medicamentos que você toma regularmente: para dor de cabeça, para refluxo, anticonvulsivos, contraceptivos… Não confie apenas na memória do médico;
- se você toma anticonvulsivo, o anticoncepcional não pode ser seu único método de evitar gravidez;
- se necessário, consulte vários médicos da mesma especialidade, até encontrar um que realmente demonstre ter conhecimento a respeito do seu problema ou necessidade.
Até mais!
Imagens: FreeGreatDesign,
Wikimedia Commons e sxc.hu.
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