sábado, agosto 03, 2024

🪞 Threads é câmera de eco ou um jogo de espelhos?

Helen Fernanda nos espelhos do Sesi Lab
Dia 21/04/2023 no Sesi Lab, Brasília, DF, Brasil.
Este texto é sobre minha experiência pessoal e intransferível.

Me afastei do Threads porque sou capaz de passar horas e horas e horas… respondendo aos mais variados posts que me aparecem na tela. Muitos assuntos do meu interesse, dúvidas sobre temas nos quais já tenho alguma experiência; perguntas bobas, mas gostosas de responder; longas e interessantes histórias de pessoas que ainda não descobriram um serviço mais adequado para postar textos longos; as respostas aos meus próprios posts com dicas ou sobre coisas que me acontecem… horas e horas e horas…

Eu já estava decidida a me afastar do Threads neste segundo semestre porque acrescentei mais compromissos à minha programação semanal e notei que estava gastando muito tempo ali. Eu sabia que, fora do Threads, eu teria mais tempo para estudar espanhol, ensaiar as músicas do coral, organizar minhas atividades de lazer, organizar as novas refeições que a nutricionista incluiu na minha dieta, colocar roupa na máquina antes de começarem a faltar leggings de academia.

Anunciei que ia sair do Threads dia 31, mas no dia 29 uma tia minha faleceu e a tristeza me inundou de um jeito que expulsou outras emoções, inclusive a ansiedade que eu sentia de entrar no Threads para ler as últimas interações e responder novos posts que passavam pelo meu feed. Desativei meu perfil poucas horas depois de receber a notícia.

Em poucos dias afastada da rede de microblogs, percebi que, apesar de ter apreciado estar no Threads, eu passei a me senti ainda melhor longe dele. Achei que fosse só pelo tempo e pela energia mental que eu gastava ali. Mas hoje, numa das questões do aulão para concurso público, o professor nos lembrou dos conceito de homofilia e câmara de eco e na hora me lembrei do Threads.

Para quem ainda não usa ativamente o Threads, saiba que ele tem um excelente algoritmo porque mostra, no feed sugerido (o Para Você), posts sob medida baseados naquilo que a gente já curtiu, comentou, clicou. E ele ainda agrupa os textos, de forma que você pode entrar num determinado momento e ver vários posts consecutivos sobre uma mesmo tema, dando a sensação de você realmente está numa conversa em que todas as pessoas estão dando suas respectivas opiniões ou observações sobre o mesmo assunto.

Se você procura uma câmera de eco onde você vai encontrar pessoas que se interessam pelos mesmos temas que você e que parecem passar o dia inteiro falando sobre as mesmas coisas sem se cansar (o algoritmo do Para Você muitas vezes dá essa sensação) sem dúvida o Threads é a rede social que você procura.

É claro que isso não é novidade e que Facebook e Instagram também são câmeras de eco, mas no Threads, a Meta alcançou uma precisão assustadora, justamente por não ser uma rede com foco em relacionamentos pré-existentes. Sequer a geografia é uma limitação, já que muitos portugueses aparecem no seu feed quando postam sobre assuntos que estão no seu radar.

Por tudo isso, com alguns meses de uso, sua rede de contatos no Threads já vai ter formado panelinhas muito específicas. No meu caso, tinha um grande grupo de adultos autistas, redatores e escritores, esquerdistas, professores, comunicadores sociais, artesãs (principalmente do crochê), psicólogos, psiquiatras. E é claro que, muita gente que eu seguia, tinha vários desses adjetivos ao mesmo tempo. A homofilia me deixou deslumbrada!

Só nos últimos dias, já fora do Threads, percebi que, o que me deixava deslumbrada no início, passou a me deixar atordoada sem que eu notasse a transição, como um sapo na água fervente. Apesar de já ter feito amigos reais em redes sociais, desta vez eu notei que não estava me relacionando com outras pessoas, eu estava usando os outros perfis como espelhos para refletir nuances de mim mesma, como realidades paralelas em que sou psiquiatra, publicitária, professora de Ensino Médio, crocheteira profissional… Eu não seguia outras pessoas, eu seguia o que eu acreditava serem versões de mim mesma.

E sei que não fui a única a cair na armadilha. Em algumas interações, notei que alguns seguidores ficaram assustadoramente frustrados quando eu não atendia às suas expectativas, como se eles estivessem olhando para um espelho quebrado. E não satisfeitos, queriam me “consertar” para que eu refletisse a imagem que elas julgavam mais fiel.

Então minha experiência no Threads, que usei regular e loucamente por cerca de um ano, foi de uma câmera de eco com jogo de espelhos. Me deixei confundir pelo que eu lia e pelo que eu via.

Felizmente, acredito que não é o caso da maioria dos usuários do Threads.

E não posso dizer que nunca vou voltar nem que não vou cair em outra armadilha. Inclusive, recentemente descobri que o Substack ganhou formato de rede social e eu descobri que é um bom lugar para ler textos longos e interessantes em espanhol. Meu perfil: substack.com/@helenfernanda.

Até mais!

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