Em maio deste ano a jornalista carioca Patrícia Haddad participou do lançamento do livro Cartas Entre Amigos: sobre medos contemporâneos e escreveu um simpático post em seu blog falando do livro, do lançamento e do hábito de escrever cartas, do qual fui fiel praticante durante quase cinco anos de minha adolescência - cheguei a contar 300 amigos por correspondência ao mesmo tempo de quase todos os estados do Brasil e de Portugal. O texto enxuto, informativo e bem ilustrado da Patrícia foi o que me incitou o desejo de ler o livro.
Dois meses depois eu ainda não tinha lido Cartas Entre Amigos, mas me deparei com outro texto, dessa vez do jornalista goiano Rafael Carneiro que sugestivamente escolheu o título A boa surpresa para falar da obra. Rafael, católico praticante, encerra o seu texto dizendo:
Católico, não me espelho necessariamente em homens como o Padre Fábio ou Gabriel Chalita. Mas me encanta ver imagens diferentes dos meus achismos em outros espelhos. Católico, me espelho muito nessa generosidade. Os generosos são surpreendentes.
O texto do Rafael, que não é membro da Renovação Carismática Católica, reavivou meu desejo de saborear o livro. Por motivos financeiros, só este mês tive condições de comprá-lo. A leitura, fácil e prazerosa, durou menos de três noites e já escolhi uma pessoa querida da minha família a quem vou presentear com o mesmo exemplar que li. Sou de uma corrente que defende que lugar de livro não é na estante, mas sim a trinta centímetros do nariz de um leitor.
Gabriel Chalita e Padre Fábio têm narrativas muito parecidas. São poéticos, filosóficos, conselheiros, defensores do amor. Várias vezes, ao longo das dezoito cartas, eu me via perdida por alguns segundos tentando me lembrar quem escrevia para quem, até que encontrava algum vocativo dizendo “padre”, que é como Gabriel trata Fábio, ou “Gabriel”, que é como o padre chama o doutor em direito. Os vocativos “amigo” e “irmão” são comuns a ambos.
As cartas são repletas de testemunhos nos quais identificamos pessoas conhecidas de nosso convívio familiar e social, se não nós mesmos. Ao contrário do que eu imaginava antes, Fábio e Gabriel não fazem apologia ao catolicismo em si. Suas cartas são apologias ao amor, que está acima de qualquer religião. As frases são tão belas e definitivas que eu poderia fazer dezenas de citações aqui, mas vou encerrar com um parágrafo da décima terceira carta, escrita por Gabriel Chalita:
Somos avarentos porque temos medo de perder dinheiro, invejosos porque temos medo do sucesso do outro, ciumentos porque temos medo de que alguém roube o que fantasiamos nos pertencer. Arrogantes, porque temos medo de que percebam nossas fragilidades. Egoístas porque temos medo de dividir a rede. Preguiçosos porque temos medo da luta. Agressivos porque temos medo do amor.
Paz e bem!